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Discurso de Ódio Online em Portugal: Que Presente e Que Futuro? – Conferência final do projeto kNOwHATE

A análise do discurso de ódio online em Portugal esteve em destaque na conferência final, realizada no dia 9 de julho no Iscte, do projeto kNOwHATE, financiado pela União Europeia.

Os investigadores do projeto apresentaram os principais resultados do projecto e ferramentas e recursos inovadores para compreender e combater este problema.

Uma das principais conclusões do estudo é que não há um discurso de ódio, mas sim múltiplos discursos, que mobilizam diferentes conteúdos e recorrem a estratégias linguístico-discursivas diversificadas, sendo as formas de expressão mais veladas e subtis as mais prevalentes nos dados analisados. Segundo Rita Guerra, coordenadora do projeto, "o ódio esconde-se em mensagens aparentemente inofensivas, mas que carregam um grande potencial para causar danos".

Para ajudar a combater este problema, os investigadores do projeto kNOwHATE desenvolveram vários recursos. Um deles, é um protótipo que utiliza IA para classificar automaticamente discursos de ódio em textos escritos em português. Este protótipo está disponível em acesso aberto, e embora esteja ainda em desenvolvimento e não esteja isento de erro, permite aos utilizadores testar um sistema de deteção automática e compreender o modo como estes sistemas funcionam.

Esta ferramenta pode ser utilizada num contexto mais educativo, isto é, no contexto de sala de aula. Mas essencialmente o principal público-alvo é a maioria silenciosa, o cidadão comum que não tem necessariamente formação em engenharia e que pode até nem saber o que é um algoritmo” referiu Rita Guerra, coordenadora do projeto.

A luta contra o discurso de ódio é um desafio que exige a colaboração de todos e a utilização de respostas a múltiplos níveis. O combate eficaz a este fenómeno não pode ser feito apenas com moderação de conteúdos online e com recurso a mecanismos de detecção automática. São necessárias respostas legais, educativas, artísticas, de sensibilização acerca deste fenómeno. Com este objetivo o projecto desenvolveu a campanha #CortarOMalPelaRaiz, que inclui vários recursos online, um Podcast de 4 episódios, uma brochura, um folheto e um vídeo para as redes sociais. É fundamental que as plataformas digitais, os governos, as escolas e a sociedade civil trabalhem em conjunto para criar um ambiente online mais seguro e inclusivo. O projeto KNOWHATE deu um importante passo nessa direção, mas o caminho ainda é longo.

O programa da conferência contou ainda com a participação da keynote speaker Sahana Udupa, professora de Media Antropology na LMU Universidade de Munique e especialista em discurso de ódio, que alertou para as enormes limitações dos actuais modelos de moderação de conteúdos baseados em aprendizagem automática, destacando a necessidade de apostar em abordagens transparentes, reflexivas, e colaborativas na moderação de conteúdos.

Estiveram também presentes os parceiros da sociedade civil do projeto kNOwHATE, a SOS Racismo, a Casa do Brasil de Lisboa e a ILGA.

Víctor Costa, representante da Casa do Brasil de Lisboa salientou a importância da colaboração entre a academia e a sociedade civil referindo que “é bom ver que o meio académico e a sociedade civil se mobilizam para procurar compreender este fenómeno e se organizam para criar mecanismos de moderação”, destacando ainda que “o discurso de ódio está a começar a sair do espaço online e a chegar aos espaços comuns, ao espaço de trabalho e de convívio.”

Sara Sores, representante da ILGA salientou a preocupação com o aumento do discurso de ódio, especialmente durante a pandemia. Segundo a representante da associação, o discurso de ódio está a tornar-se cada vez mais presente nos nossos espaços e nos nossos eventos, saindo do ambiente online e manifestando-se de uma forma cada vez mais concreta.

José Falcão, representante da SOS Racismo, salientou a gravidade de alguns ataques recentes a pessoas migrantes como exemplos preocupantes da ligação entre o que ocorre na esfera online e offline, destacando a necessidade de se apostar em respostas legais adequadas e ainda na educação como um meio para combater a proliferação do racismo e da xenofobia.

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